A moda na era do consumo

Moiziane Utzig
7 min readJun 15, 2021

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Como tudo no mundo, a moda se reinventa a cada instante, juntamente com o seu mercado consumidor. Na imediaticidade, nem sempre fazemos a escolha mais sustentável.

Foto de uma vitrine com vários manequins em Oxford Street, Londres. Fonte: Unsplash

O consumo do Fast Fashion tem crescido cada vez mais no Brasil, mas, afinal, o que esse termo significa? Em tradução livre: moda rápida. Remetendo a um padrão de produção e consumo de produtos com breve vida útil, que se tornam obsoletos rapidamente. Originada na Europa por volta dos anos de 1990, a expressão foi utilizada para identificar essa acelerada atualização dos produtos fabricados nas grandes redes, trazendo a falsa sensação da democratização da moda. Uma de suas principais características, e também política de mercado, é essa troca constante das peças, buscando sempre atualizar suas vitrines, tanto em suas lojas físicas quanto em seus sites, a fim de sempre ter uma nova versão da moda, criando novas tendências e aumentando o consumo. Com foco no rendimento financeiro e menos no estoque, a produção feita em massa se torna barata e lucrativa, trabalhando apenas com a demanda de seu consumidor.

Esse modelo de produção também apresenta pontos negativos.A globalização
da moda cria um padrão de estilo, o que acaba gerando um impacto nas características de cada cultura, gerando um estranhamento identitário. Outro ponto que deve ser ressaltado é sobre as questões ambientais, por se tratarem de artigos com durabilidade baixa e grande descarte das peças, por serem, muitas vezes, feitas incorretamente.

Em contrapartida, pensando como uma forma sustentável de consumo, os
brechós têm ganhado destaque entre a geração Y. Inserido na chamada Slow Fashion, conceito que significa “movimento lento” e que prioriza a fabricação de peças pensadas nas pessoas, meio ambiente e animais. Partindo disso, os brechós têm o intuito de optar por produtos e produtores locais, com a ideia de desapego de roupas, gerando renda. Essa cultura movimenta tanto a economia como a sustentabilidade desse ramo.

Referência no assunto, Kate Fletcher, consultora e professora de design
sustentável do Centre for Sustainable, criou o termo Slow Fashion, em meados de 2008, se inspirando no conceito de Slow Food, que carrega o significado de maior apreciação, valorização e qualidade da comida e do meio ambiente. Essa moda desacelerada envolve todas as fases da moda, desde o tipo de corte, o tecido e até mesmo o seu descarte, tudo é pensado para reduzir impactos, por isso se utiliza mais tempo na fabricação, mas são desenvolvidas peças atemporais. A calça jeans, por exemplo, as mais fabricadas são cores neutras como: cinza, branco, azul ou preta. Peças que são
coringas e proporcionam diversas combinações.

O envolvimento do jovem no mercado da moda

Com o acesso facilitado de informações, a busca por novas alternativas de
consumo vem crescendo significativamente e o público mais influenciado por esse boom de sustentabilidade são os jovens. Para a estudante de Jornalismo Camila Beque, 21, fotógrafa e proprietária do Girasoles Brechó, “o mercado está criando essa pegada sustentável, mas ao mesmo tempo eu vejo que parece uma estratégia que os millennials exigem sabe?! Chega um momento que tu tá vendendo, mas aí a geração que mais vai consumir gosta de comprar coisas se sentindo um pouco confortável sabendo que está contribuindo com alguém”. Camila complementa que as empresas “criam essas campanhas pra parecer sustentáveis, mas a gente sabe que tem muito mais por trás, é tudo muito controverso, não tem como só atirar pedras em um e achar que o outro tá salvando o planeta”.

Entusiasta do consumo do slow fashion, Lucas Almeida, 23, estudante de
Publicidade e Propaganda, conta que já há algum tempo é adepto ao consumo de artigos de brechós. “, Não vou falar que não comprei nada assim de lojas online, mas eu me regro bastante, é o famoso ‘se tu carrega uma bandeira, tu fica naquela’, já que você se identificou com aqueles valores, de pensar muito antes de comprar, será que essa roupa eu realmente preciso dela?.” E esse foi o conceito que ele tornou ainda mais forte quando ingressou na faculdade. “Universitário que não tem dinheiro pra tudo, aí eu comecei a pensar em possibilidades, em como eu poderia encontrar as roupinhas legais sem gastar horrores, como são nas lojas”.

Lucas também trouxe experiências que remetem ao apego à mãe: “Lá em São Paulo ainda, minha mãe era muito adepta ao brechó e eu ia com o pé atrás, mas quando vim estudar em São Borja, eu vi essa possibilidade dos bazares, brechós, de encontrar roupa legal, roupas que só você vai ter”.

Um dos principais motivos de ter optado por esse consumo é pela questão da
exclusividade que encontra nos brechós, e, pensando no fast fashion, sabemos que é o contrário: “São peças produzidas em grande escala, seguindo aquela questão do tamanho P, M e G, sendo peças que provavelmente você vai encontrar mais pessoas usando”.

Como publicitário em formação, Lucas reconhece que é até um contrassenso à
lógica da profissão sua renúncia ao fast fashion, mas entende que, como cidadãos, devemos primar pelo consumo sustentável.
“Eu brincando com essa questão do consumo, estou dando um soco na minha própria profissão, porque a profissão quer esse consumo, tem o intuito de encantar os clientes, para que eles possam consumir determinada marca. Eu, como futuro publicitário, vejo a questão do consumo sustentável, mais responsável, tenho certeza que a gente está caminhando para um futuro onde muitas pessoas estão pensando muito antes de comprar”.

O jovem concorda que as vendas online são uma tendência e dispararam
durante a pandemia, mas isso não quer dizer que as pessoas não estejam se preocupando com a qualidade do produto e questões de caráter sócio-ambiental. “Há uma preocupação com a origem do produto, se as pessoas estavam em condições insalubres de trabalhar;, a maioria das peças das fast fashion são produzidas em países de terceiro mundo, sem regulamentações trabalhistas; em se tratando do Brasil, vejo que as marcas já estão se preocupando com essa questão social e sustentável, mas é um processo gradual”.

Um fator a ser considerado é se a chamada “onda ou revolução verde”, que
ganha espaço na publicidade, é, de fato, algo genuíno ou mais uma tendência que leve o mercado a ganhar com isso. Mas isso não preocupa o estudante. “Pode até ser assim, surfando nessa onda verde do capitalismo, surfando em uma oportunidade, mas que bom que estão surfando, se preocupando com onde esse produto está sendo produzido, como vão apresentá-lo aos clientes, tinha muito disso de apoiar um projeto social, o que também já era legal, então tem essa balança, pelo menos já estão falando, pode ser modinha, mas tem seu lado positivo”.

As tendências da moda não param com a globalização, nesses dois mercados
apresentam igualdades nelas. “A igualdade é no sentido de que as duas pessoas se vistam independente se ela vai comprar em uma fast fashion ou em um brechó. Hoje, com a pandemia, se tem muito o garimpo online, pensando e vendo o que comprar. enquanto as fast fashion tem essa agilidade, no brechó a pessoa busca essa responsabilidade, em pensamento num todo, na pessoa, conhecer ela, no ambiente”.

O impacto no Instagram, de vídeos e notas para as roupas das fast fashion, tem invadido as postagens absurdamente, mas o consumo desenfreado acaba por ignorar o lado social. “Como essa marca schein está em alta, as blogueiras só falam das roupas, não se preocupam com a procedência das peças, e quem não se preocupa vai estar comprando igual”, sentencia o estudante.

Sempre que se muda de estilo de vida, carregam-se referências, como a de comprar em brechós. Lucas ainda lembra-se da sua primeira compra e de sua camisa amarela, foi ali que se sentiu inserido neste mundo, tem esse lado emocional, e pelo fato de se sentir bem com as roupas, sentir o tecido, se encontrar em um estilo e criando laços.

Foto/fonte: Camila Beque e Lucas Almeida vestidos com roupas de brechó.

Fast Fashion x Slow Fashion

Dois movimentos da moda, um o oposto do outro, cada um com seu público
alvo, trabalhando de maneira diferente, mas buscando atender seus consumidores, essa onda de mercados ainda está crescendo de forma global, principalmente através de redes sociais.

Na internet, muito se debate sobre questões envolvendo esses dois conceitos,
focados na fabricação, entrega e descarte desses produtos. A moda engloba muito, além disso, ela está envolvida com o meio ambiente, o econômico e o social dos consumidores e de suas mercadorias.

A moda construiu na geração Y um consumismo desenfreado, conseguiu criar
um padrão variado de tendências, sempre atualizando suas peças de maneira rápida em seu fornecimento, grande variedade, o que chama a atenção de seu público a consumir tudo que entra e sai rapidamente das vitrines. Mas o século XXI chegou à moda com outro grande propósito também, que é o de desacelerar as vitrines, e foi assim que as tendências se voltaram a procurar por roupas de estilo único, duradouras, evitando um exacerbado descarte no ambiente. Sobre tendência e moda sustentável, entre gostos e distinções, o mercado consumidor nos apresenta opções, qual você está escolhendo
atualmente?

Acompanhe um pouco mais sobre a experiência afetiva de Lucas Almeida com os brechós:

Trabalho realizado por Érika Hammes e Moiziane Utzig, para a disciplina de Redação Jornalistica II, pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA), coordenado pelo Professor Leandro Ramires Comassetto.

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Moiziane Utzig

Acadêmica de jornalismo, Universidade Federal do Pampa.